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Negligência médica ou política sobre o caso da morte de bebê em São Pedro???

(Foto Lucia Bezerra)

Uma família, denuncia a Maternidade Missão de São Pedro, por negligência médica após a morte de um bebê. Lucca Bittercourt Lopes Cardoso, com três dias de vida, morreu por falência múltipla dos órgãos, hipertensão pulmonar severa, síndrome mecânica e asfixia, de acordo com o atestado de óbito do menino. A mãe da criança, Thayná Ribeiro, de 17 anos, que é criada pela avó desde pequena, estava grávida de 40 semanas e cinco dias, deu entrada na unidade de saúde na noite de segunda-feira dia 14 de julho. O bebê, que era o primeiro filho da jovem, nasceu de parto normal na madrugada de terça-feira dia 15 de julho.

Segundo a bisavó da criança, Lúcia Nogueira Bezerra Ribeiro, de 54 anos, assim que a criança nasceu, a médica responsável pelo parto informou que o menor não estava bem pois tinha aspirado mecônio, que são as primeiras fezes do bebê.

Não tinha pediatra

“A doutora me disse que não havia pediatra de plantão, que nenhum pediatra tinha acompanhado o parto. Fiquei em estado de choque. Fui ver o bebê, estava entregue as enfermeiras. Um bebê lindo de 3kg e com 53cm. Procurei a médica e disse que traria um pediatra. Fui informada que eles estavam tentando falar com o diretor da unidade, mas ninguém conseguia. Eles falaram que a pediatra só ia chegar as 7h. Meu neto não podia ficar esperando amanhecer”, disse a bisavó.

A médica pediatra chegou as 9h40 da manhã, duas horas e quarenta minutos depois do horário. De acordo com a bisavó, a pediatra disse que a criança estava em “um quadro considerado gravíssimo” e precisava ser transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neo Natal.

(Foto Arquivo Tayna Ribeiro)
Após a autorização de transferência para uma UTI, o bebê precisou esperar por oito horas. O nome de Lucca Cardoso precisava ser inserido no sistema da Central Reguladora de Vagas do Estado do Rio de Janeiro, mas segundo a bisavó, o sistema estava fora do ar.

“Eu fiquei em cima o tempo inteiro pedindo para que eles corressem com a transferência. Quando foram colocar o nominho dele no sistema, disseram que estava fora do ar e que não podiam iniciar o processo de transferência. Comecei a gritar, falei que ia na Delegacia, no Ministério Público. Fiquei muito nervosa. Foi quando deram um jeito.”

A UTI com vaga mais próxima foi encontrada, a aproximadamente 165km de distância de São Pedro da Aldeia. A ambulância que foi enviada para buscar o menino chegou as 18h de terça-feira dia 15 de julho, oito horas depois que o pedido de transferência foi feito. Assim que chegaram na unidade de saúde de Niterói, a médica disse que o bebê estava agonizando, quando a pessoa se encontra em estado de sofrimento.

“Assim que a gente chegou na UTI, em Niterói, a doutora disse que meu bisneto precisava ter chegado mais cedo, que ele ficou esse tempo todo agonizando. Ouvi isso é muito doloroso, mataram nosso bebê por falta de estrutura, por falta de profissional. Isso não pode cair no esquecimento”, desabafou.

(Foto Arquivo Tayna Ribeiro)
Lúcia Nogueira disse ainda que a maternidade de São Pedro da Aldeia não tem respirador. Um equipamento que ajuda crianças em quadro de asfixia. A avó pede justiça e comparou o local com campo de concentração.

“Ou fecha de vez aquela maternidade ou coloca gente que sabe trabalhar. Eu me senti em um campo de concentração, daqui a pouco outra criança vai ser morta e nada será feito. Outras pessoas me procuraram dizendo que passaram por algo parecido. Eu não posso ficar quieta”.

Um outro motivo que revoltou a bisavó da criança, foi quando a equipe médica não a deixou acompanhar o parto. De acordo com Lúcia Nogueira, é permitido por lei que a mulher tenha um acompanhante antes, durante e depois do parto. A lei nº11.108, de sete de abril de 2005 determina que os “serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato”.

Morte do Bebê

Lucca Cardoso ficou vivo apenas três dias. Não resistiu e morreu na manhã da última sexta-feira dia 18 de julho. O enterro foi no Cemitério Municipal de São Pedro da Aldeia, que fica ao lado da maternidade onde a criança nasceu.

Gustavo da Silva Cardoso, de 18 anos, também acompanhou todo o caso de perto, disse que está inconformado com a falta de pediatra em uma maternidade, principalmente durante os partos e para atender casos como o do seu filho.

“Nem tenho muito para falar nessa hora. Foi absurdo perder meu filho por falta de médico, de um pediatra. Alguma coisa precisa ser feita”.

E agora "José"

De acordo com Antônio Gil, diretor geral da Maternidade São Pedro, há falta de profissionais pediatras no plantão. Ele disse que o recomendável pelo Ministério da Saúde é que o pediatra faça parte da equipe médica durante o parto, mas não tem funcionários suficientes por falta de dinheiro. O ideal, ainda segundo o diretor, seria sete plantonistas no local, quando na realidade a maternidade possui somente quatro pediatras trabalhando em escala de visita.

Sobre a proibição de uma acompanhante para gestante, o diretor da unidade disse que ''quando a paciente é menor de idade, um responsável pode ficar próximo. Mas durante o trabalho de parto e o parto, o acompanhante é proibido de estar perto. Declarou ainda que a maternidade não possui respirador, porque é um aparelho existente somente em UTI Neonatal''.

Sobre a ligação que não foi atendia logo depois do nascimento da criança, o diretor disse que estava ocupado por causa de problemas pessoais de saúde.

(Foto Heitor Moreira - Vó e Tayna arrasadas)

Algo estranho no "ar"

A maternidade Missão de São Pedro é uma unidade filantrópica e recebe o repasse federal de aproximadamente R$80 mil por mês, segundo o diretor Antônio Gil. Cerca de 100 crianças nascem mensalmente no local. O dinheiro é enviado para o fundo municipal da prefeitura da cidade, que repassa o valor.

O "bicho" vai pegar para alguém 

A bisavó da criança declarou que vai oficializar uma denúncia sobre o caso no Ministério Público nesta  sexta-feira dia 25 de julho.